quarta-feira, 5 de maio de 2010

Expansão dos Bacharelados em Estatística no Brasil

Na lista da ABE houve uma vasta discussão sobre as reais consequências da atual política de expansão das universidades federais, não somente promovendo a criação de novas unidades de ensino, como também novos cursos. É muito positivo esse grande investimento na educação de nível superior, sobretudo num país que precisa incrementar bastante seu número de trabalhadores mais qualificados. Mas entendo também que, juntamente com o projeto de expandir, deveria haver uma política mais ágil para viabilizar a boa estruturação dos departamentos para que possam ter boas condições de ensino.

O Bacharelado em Estatística

Hoje o Estadão publicou uma matéria mostrando as dificuldades para as universidades contratarem doutores para seus departamentos (http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100505/not_imp547049,0.php). Não sou conhecedora dos pormenores do programa de governo de expansão universitária, mas, corroborando a matéria do Estadão, posso notar as dificuldades que alguns Departamentos de Estatística estão tendo para contratar docentes com doutorado, principalmente se for longe de grandes cidades como São Paulo ou Rio de Janeiro.

Universidades como a Federal de Rondônia sofrem para atrair docentes. Na UNIR, o câmpus do Depto de Estatística sequer fica em Porto Velho e, sim, em Ji-Paraná. Com tantas ofertas no interior de São Paulo, Minas ou Rio, acho compreensível que poucos se entusiasmem em se mudarem para o interior da Região Norte.

Fazendo uma levantamento rápido (infelizmente não tive paciência de ler os detalhes de todos os editais), postei no fórum do CONRE-3, desde Julho/2009, mais de 45 concursos para provimento de docentes para a área de estatística (aula+pesquisa em Deptos de Estatística ou p/ dar aulas de estatística em deptos diversos). Alguns concursos reapareceram no mesmo depto (talvez por não terem preenchido as vagas anteriormente). Contei mais de 90 vagas: desde aqueles que pedem apenas a graduação em estatística/áreas afins, até os que exigem doutorado em estatística/áreas afins.

Isso sem contar as outras vagas (concursos ou não) para mestres/doutores em estatística que "roubam" os estatísticos do meio acadêmico/universidades!

Deficit de Estatísticos

No Brasil há ainda poucos bacharéis em estatística se formando. O censo do MEC de 2008 contou cerca de 500 formandos naquele ano. Destes, um número ínfimo segue carreira acadêmica fazendo o mestrado e, depois, o doutorado. Há, claro, os formandos de carreiras diversas que fazem mestrado e/ou doutorado em estatística, mas nem sempre a formação alcança o nível desejado específico para esta carreira.

O mercado para estatístico está crescendo e vejo que há espaço para novas vagas, no entanto, não gostaria de ver a nossa carreira banalizada por profissionais egressos de universidades de qualidade duvidosa, a exemplo do que ocorre com o curso de Direito, Matemática, Pedagogia, entre outros.

Como melhorar essa situação? Se houve aprovação do MEC para se oferecer um Bacharelado em Estatística, será que não deveria haver também um bom plano federal para viabilizar um curso de qualidade? Não é justo submeter os alunos a cursos precários, pois o mercado está cada vez mais exigente, buscando estatísticos com sólida formação em matemática e estatística. Como ajudar os departamentos que estão começando agora, como na UNIR, a crescer e formar bons profissionais? Como ajudar outros departamentos a melhorarem seus conteúdos programáticos, sua infraestrutura?

Mesmo sendo um curso que exige uma estrutura simples, encontrar bons docentes -- engajados no bom ensino e pesquisa -- e montar um laboratório contendo computadores e softwares estatísticos (que pode ser o software livre R, por exemplo) são lutas permanentes.

Doris Fontes

3 comentários:

  1. Oi Doris,

    Eu diria que ate' as grandes Universidades do Rio e Sao Paulo estao sofrendo para contratar doutores em estatistica, por simplesmente nao ter candidatos qualificados.

    E os poucos q tem alem de ter q decidir se ficam ou nao na academia, ainda tem q encarar a nossa bu(r)rocracia. Que desamina qq um. Ou seja, entrar para a academia no Brasil (em qq lugar) tem q ser algo q vc queira muito! Pois e' um saco essa enrolacao toda (falo por experiencia propria). Ai, uma vez q vc ja' aceitou enfrentar toda a palhacada burocratica das instituicoes (federais pelo menos, nao sei qto a estaduais) vc dificilmente vai querer ir pra Rondonia por exemplo. E' natural que a pessoa escolha estar proximo de um centro ja' estabelecido. (ou ir para um centro ja' estabelecido).

    Obvio que outras decisoes podem pesar como o custo de vida, ja' q o salario federal e' o mesmo em SP, RJ, RO, SE, AP,... E' foda viver no Rio com salario de professor e tem interesse em comprar um casa (q com menos de 200mil vc nao acha, olha q nao estou falando perto da praia). Mas isso nao tem nada a ver com o fato de ser da estatistica ou nao. rs

    A forma mais obvia de departamentos distantes dos grandes centros crescerem. E' com a formacao de prata da casa, dos proprios professores ou de alunos dessas universidades, assim existe uma chance maior dessas pessoas voltarem e quem sabem convecerem amigos (tb qualificados) a migrarem tb. Mas isso nao da' pra fazer a curto prazo, e acredito q alguns departamentos q hj estao dando seus proprios passos comecaram assim.

    Acho q eu escrevi demais.

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  2. Acho que o que mais desanima é a falta de pesquisa. Há muitos doutores que querem continuar pesquisando e o ensino simplesmente faz parte do pacote (do contrato). Então, por que aceitar ir para qualquer lugar que seja se não há um programa de mestrado ou, melhor ainda, doutorado, para que o docente possa continuar pesquisando?

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  3. E' verdade Doris, ao escolher continuar na academia. na grande maioria dos casos, entenda como continuar fazendo pesquisa. E o melhor lugar para se fazer pesquisa e na universidade, principalmente nas que tem programas de mestrado/doutorado. As universidades que nao tem um grupo consolidado ficam pra tras, na escolha dos potenciais candidatos para fortalecer o departamento.

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